(Texto extraído do site Wikipédia)
Mozart Camargo
Guarnieri nasceu em Tietê,
a 1º de
fevereiro de 1907.
Seu pai era um imigrante italiano e sua mãe vinha de uma
tradicional família paulista. O pai, Miguel Guarnieri, era barbeiro e músico, e
tocava flauta. A mãe, Gécia
Camargo, tocava piano. O pequeno Mozart
aprendeu música em casa.
Teve aulas de piano a partir dos dez anos de idade com o
Professor Virgínio Dias. Para ele dedicou sua primeira composição, a valsa Sonho
de Artista (1918). A obra foi
desdenhada pelo professor, mas seu pai julgou que a obra era fruto de promissor
talento, pagando sua publicação em 1920.
Em 1923, Miguel Guarnieri decidiu mudar-se com a família para
São Paulo a fim de proporcionar melhores condições de estudo da música ao
filho. Sendo uma família de poucos recursos financeiros, Guarnieri trabalhou
junto com o pai na barbearia e trabalhou como pianista. Até 1925 manteve vários
empregos, tocando em cinemas, lojas de partitura e casas de baile da cidade. Estudou
piano com Ernani Braga.
Em 1925 seu pai obteve melhor emprego, o que permitiu a
Guarnieri reduzir sua carga de trabalho e dedicar-se mais ao estudo da música.
Passou a ter aulas de piano com Antônio de Sá Pereira, e, alguns anos
depois, começou também a estudar harmonia, contraponto, orquestração e
composição com o maestro Lamberto Baldi, recém chegado da Itália.
Baldi tinha vindo para São Paulo como regente de uma companhia de ópera
italiana, mas acabou transferindo sua residência para a cidade. Além de
trabalhar como professor, Baldi foi regente da Sociedade Sinfônica de São Paulo
e diretor musical da Sociedade Rádio Educadora Paulista. Em 1932 mudou-se para
Montevidéu, o que significou para Camargo Guarnieri a interrupção de seus
estudos de composição sem que o jovem compositor se julgasse preparado.
Em 1928 foi apresentado a Mário de Andrade, a quem mostrou suas obras recém compostas Canção Sertaneja e Dança
Brasileira. O escritor modernista tornou-se seu mestre intelectual.
Guarnieri passou a frequentar a casa de Mário de Andrade, com quem discutia
estética, ouvia obras musicais e tomava livros emprestados. Tendo cursado até
então apenas dois anos do curso primário, o contato com o escritor foi muito
importante para a formação intelectual de Guarnieri. O contato entre ambos
tornou-se uma grande amizade e também uma parceria artística. Muitas das
canções escritas por Camargo Guarnieri foram sobre textos de Mário de Andrade,
incluindo a ópera Pedro
Malazarte. Exercendo atividade como crítico musical na imprensa,
Mário de Andrade foi um dos principais responsáveis pela aceitação e pela
divulgação da obra de Camargo Guarnieri.
Em 1931 Camargo Guarnieri teve a estréia de sua primeira
composição sinfônica, Curuçá,
regida por Villa-Lobos em concerto da Sociedade Sinfônica de São Paulo.
Entretanto, a peça jamais foi executada novamente, nem teve sua partitura
publicada. Outras experiências de composição sinfônica foram tentadas por
Camargo Guarnieri, incluindo transcrições de sua música composta para piano
(das quais a Dança Brasileira se tornaria a mais célebre, chegando a
ser gravada a versão orquestral por Leonard
Bernstein com a
Filarmônica de Nova York na década de 1960) e a composição do Concerto n° 1 para piano e orquestra. Esta obra foi
estreada em 1935 tendo o compositor como regente e o solo executado por Souza Lima.
Em 1935 a prefeitura de São
Paulo criou o Departamento de Cultura, cujo primeiro
diretor, Mário de Andrade, convidou Guarnieri como regente do Coral Paulistano. Este deveria ser um conjunto
de câmera, pois o município também iria manter o Coral Lírico para dedicar-se
ao repertório operístico. O Coral Paulistano tinha também como objetivo
fomentar o canto em língua nacional, e Camargo Guarnieri compôs para ele
diversas obras corais. Foi também no Departamento de Cultura que Guarnieri
passou a reger a Orquestra Sinfônica Municipal de São
Paulo, e o trabalho nesta instituição pública foi sua principal
atividade profissional ao longo de toda a década de 1940.
Em 1938 o compositor foi selecionado em concurso pela
Comissão do Pensionato Artístico do Estado de São
Paulo, recebendo uma bolsa de estudos de dois anos, renovável por
mais um, para estudar em Paris. Na capital francesa
teve aulas de contraponto, harmonia, orquestração e composição com Charles
Koechlin, e de regência com François Rühlmann. Além das aulas,
realizou concertos, a travou conhecimento com Nádia Boulanger, figura central da chamada
escola neo-clássica. A temporada parisiense foi abortada prematuramente por
causa de vários fatores, entre eles a instabilidade financeira sofrida pelo
compositor quando mudanças políticas no município de São Paulo levaram à perda de uma bolsa
complementar, e também a eclosão da guerra e a iminência da ocupação alemã.
Em retorno a São Paulo, em 1939, Guarnieri manteve-se de
forma incerta, terminando por ocupar outras funções no Departamento de Cultura,
visto que seu cargo de regente tivesse sido ocupado quando de sua ausência.
Mário de Andrade já não estava na direção do Departamento de Cultura, e vivia
no Rio de
Janeiro. Outros intelectuais passam apoiar e divulgar a música de
Guarnieri, especialmente Luiz Heitor. Desde 1934 Camargo mantinha também
estreita correspondência com Curt Lange,
musicólogo alemão radicado no Uruguai. Este provavelmente tomou contato com sua
música por indicação de Lamberto Baldi, que agora trabalhava na capital
uruguaia.
Em decorrência das gestões para intercâmbio cultural entre
Estados Unidos e Brasil, no âmbito da Política da Boa Vizinhança de Roosevelt, Camargo Guranieri se
tornou o principal compositor brasileiro a atrair a atenção do meio musical
norte-americano. O compositor Aaron Copland veio ao Brasil como enviado do
Departamento de Estado para sondar compositores que receberiam bolsas de estudo
nos EUA. Ele e Camargo Guarnieri tornaram-se amigos pessoais, e o compositor
norte-americano tornou-se posteriormente um dos principais divulgadores da
música de Guarnieri nos Estados Unidos. Além de Copland, Guarnieri travou
contato com o flaustisa e musicólogo Carleton Sprague Smith,
que residiu muitos anos no Brasil como uma espécie de representante musical dos
Estados Unidos. Outro importante personagem norte-americano com quem Guarnieri
travou contato foi o diretor da Divisão de Música da União Panamericana, o
compositor Charles Seeger. O contato entre ambos deu-se a partir de Luiz
Heitor, que trabalho como secretário da Divisão de Música em Washington, em
1941.
De todas estas gestões, resultou um convite do Departamento
de Estado norte-americano para que Guarnieri passasse uma temporada de seis
meses nos EUA como bolsista, viagem que foi realizada entre outubro de 1942 e
março de 1943. Na ocasião Guarnieri realizou importantes contatos e promoveu
sua música em
concertos. Sua obra recebeu apoio entusiasmado de Serge Koussevitzky, regente da Sinfônica
de Boston, que cedeu o pódio a Guarnieri para reger sua Abertura Concertante - a primeira obra sinfônica de maior fôlego
do compositor brasileiro.
A Abertura
Concertante tinha sido
composta durante o ano de 1942, e estreada no Brasil. A intenção era suprir uma
notável deficiência do catálogo da Camargo Guarnieri: a ausência de composições
sinfônicas. Após as experiências frustradas de compor música sinfônica no
início da década de 1930, Guarnieri continuava compondo obras para piano e
canções. A composição sinfônica foi retomada após a volta de Paris, com o Concerto n° 1 para violino e orquestra, que estreou
em 1940 no Rio de Janeiro, com a Orquestra Sinfônica Brasileira, sob
regência do compositor e tendo Eunice de Conte como solista. Apesar de ganhar
prêmio em concurso internacional, que foi recebido por Guarnieri na Filadélfia
em 1942, a
obra nunca foi executada nos EUA, e permaneceu inédita até a edição da
partitura feita por Lutero Rodrigues, que também foi responsável pela primeira
execução da obra em quase 70 anos.
Outra experiência de composição sinfônica foi a peça Encantamento, escrita sob
encomenda de Charles Seeger para o sistema de bandas sinfônicas dos EUA. A peça
chegou a ser editada nos EUA em versão para clarinete e piano. Mas a composição
original foi para orquestra sinfônica, sendo uma peça curta em movimento único.
Ou seja, quando recebeu o convite para ir aos EUA, Guarnieri
não tinha nenhuma obra sinfônica de peso em seu catálogo. O que significaria a
perda de grande oportunidade, visto que a música sinfônica estava em franca
ebulição nos EUA, conjugando a presença dos mais notáveis regentes europeus que
haviam fugido da guerra e do nazi-facismo, juntamente com o surgimento das
transmissões sinfônicas por rádio e da gravação de música sinfônica em LP. Preocupado em
atender esta demanda foi que Guarnieri compôs a Abertura
Concertante, agora sim uma peça de maior fôlego, com cerca de 12 minutos de
duração, apesar de ser ainda em movimento único. A peça foi dedicada a Aaron
Copland, que manifestou opinião favorável a ela em carta a Guarnieri, elogiando
especialmente o aspecto a respeito do qual Guarnieri sentia maior insegurança:
a orquestração.
Durante a temporada nos EUA, Guarnieri comenta em carta a
Mário de Andrade que já estava trabalhando em sua Sinfonia n° 1, obra que veio a
concluir apenas em 1945. Quando da conclusão desta peça, Guarnieri articulou
uma turnê para estreá-la. Realizou concertos regendo sua obra em São Paulo , no Rio de
Janeiro e, com a colaboração de Curt Lange, organizou também uma turnê de
concertos em Montevidéu, Buenos Aires e Santiago. A capacidade de compor uma
obra sinfônica de fôlego e, mais do que isso, estreá-la quase que
simultaneamente em cinco importantes capitais sul-americanas serviu como
testemunho da consagração definitiva de Camargo Guarnieri, e de seu
estabelecimento como compositor amplamente reconhecido.
Em 1950, Camargo Guarnieri envolveu-se em uma ampla polêmica
na imprensa, após publicar a Carta Aberta aos Músicos e Críticos
do Brasil, na qual condena a técnica dodecafônica de composição. A
carta faz referências veladas a Hans-Joachim Koellreutter, líder do grupo Música Viva.
Por causa das posturas assumidas na carta, e do linguajar virulento utilizado,
Camargo Guarnieri acabou sendo visto como um reacionário, posição que
certamente não reflete o seu papel na música brasileira.
Após a publicação da polêmica Carta
Aberta, Guarnieri já se torna uma referência cultural importante. O documento
marca a passagem de Guarnieri da fase de Compositor jovem, que se afirma junto
com o modernismo, para nome de referência na cultura musical brasileira, ao
lado de Villa-Lobos e Francisco
Mignone.
Testemunha deste novo papel é a organização do livro 150 anos de música no Brasil (1800-1950) escrito por Luiz Heitor, e publicado
pela Editora José Olímpio. O livro se tornou a principal referência de História
da Música no Brasil, e dedicou um capítulo exclusivo a Guarnieri.
A década de 1950 também marca o início do que vai ficar
conhecido como Escola Paulista - com Camargo Guarnieri tornando-se um
dos principais professores de composição no país. Entre seus alunos
destacaram-se os nomes de Osvaldo
Lacerda, Lina Pires de Campos, Marlos Nobre, Almeida Prado, Villani-Côrtes, Nilson
Lombardi, Maria José Carrasqueira.
Entre janeiro de 1956 e janeiro de 1961 o compositor exerceu
o cargo de Assessor Artístico-Musical do Ministério da Educação, durante a
gestão de Clóvis
Salgado, no governo de Juscelino Kubitschek.
Sua reputação internacional continuou crescente, sendo sempre
executado nos Estados Unidos. Foi também muitas vezes convidado a participar de
juris internacionais em concursos.
Em 1975 assumiu a direção da recém-criada Orquestra Sinfônica
da Universidade de São Paulo, OSUSP, cargo que exerceu
até o fim da vida.
A obra musical de Camargo Guarnieri
é formada por mais de 700 obras e é provavelmente o segundo compositor
brasileiro mais executado no mundo, superado apenas por Villa-Lobos. Pouco
antes de sua morte recebeu o prêmio "Gabriela Mistral", sob o título
de "maior compositor das Américas".
O acervo pessoal de Camargo Guarnieri (correspondência
pessoal, partituras, discos, recorte de jornal, etc.) está depositado no
arquivo do IEB-USP,
e consiste no principal arquivo para pesquisa sobre o compositor.
Camargo Guarnieri faleceu em São Paulo no dia 13 de
janeiro de 1993.
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